João Paulo Santos Gomes, de 13 anos, não tinha interesse pela matéria. Jovem que quer ser enxadrista no futuro trouxe título inédito para a cidade.
(G1) A medalha de ouro da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) foi para um estudante de São Vicente, no litoral de São Paulo. Dedicado aos estudos, o garoto João Paulo Santos Gomes, de 13 anos, mora em um bairro carente da cidade e fez a prova sem pretensão de ganhar. A conquista inesperada foi uma vitória para a escola e para a cidade.
O campeão descobriu que era bom em Astronomia apenas quando ganhou a competição. Ele frequenta o 8º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Doutor Mário Covas Júnior, na Área Continental de São Vicente, e sempre gostou de estudar, principalmente temas relacionados a exatas, mas nunca teve interesse específico por Astronomia.
Durante uma aula de Ciências, a professora começou a passar para a turma do 8º ano exercícios daquela disciplina pouco conhecida. Em uma semana, os alunos aprenderam mais sobre o sistema solar e a fazer exercícios de cálculos envolvendo o espaço. “Coisas sobre foguete, constelação. Ela pediu também para o pessoal olhar em casa o céu”, conta João Paulo. Em seguida, a professora decidiu inscrever os alunos mais interessados na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA).
João Paulo e os amigos decidiram encarar o desafio. A prova foi em maio deste ano e contou com questões dissertativas e de múltipla escolha. Os alunos tinham, no mínimo, 2h30 para terminar o exame. Segundo João Paulo, havia várias questões sobre matemática e raciocínio.
Em outubro, a escola recebeu a notícia de que João Paulo tinha conquistado a medalha de ouro da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) no nível 2, destinado a alunos do 8º e 9º ano do Ensino Fundamental. “A gente recebeu um e-mail. Foi um susto. É a primeira vez na história vicentina que isso acontece”, vibrou a assistente de direção da escola, Ana Cristina Roberto Homsi.
O menino também ficou muito contente com o resultado que, para ele, foi inesperado. “Eu não estava muito interessado em fazer a prova, mas eu acabei fazendo. Eu não estudei muito, só prestei atenção no que ela dizia. Quando eu olhei a prova, eu achei divertida. Tudo que ela passou caiu na prova”, conta ele.
Para Cristina, o resultado foi fruto do empenho de João Paulo, que já era reconhecido por ser um bom aluno na escola. Ele já conquistou diversas medalhas e troféus em campeonatos regionais e brasileiros, como o bronze na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) em 2012. “A gente procura encontrar alunos que se empenham, buscam, um diferencial porque é difícil. A maioria só quer zoar, tirar nota”, afirmou. Além disso, ela diz que as pessoas não acreditam que em uma escola pública irá sair um campeão de olimpíada de astronomia. “Existe um estigma que aluno de escola pública, que infelizmente vive em um bairro pobre, não conquista. Eu saí de escola pública, muitos professores também. Estar em uma escola pública não quer dizer que você não tenha futuro e ele está provando isso”, disse assistente de direção da escola.
O prefeito de São Vicente, Luis Claudio Billi, fez questão de entregar a medalha ao aluno, junto com o certificado e uma luneta. Mas a festa foi grande não apenas na escola. A mãe dele, Alessandra Santos, de 41 anos, não acreditou quando soube da notícia. “Eu fiquei em choque. Quando ele era bebezinho, eu o colocava na janela e falava para ele dar bom dia para o sol. E em lua cheia a gente ia ver. Eu me espantei, fiquei muito surpresa, até agora a ficha ainda não caiu”, conta a mãe do menino. Ela diz que o filho já recebeu medalhas pelos títulos em Olimpíadas de Matemática, mas que não conhecia o potencial dele para Astronomia. “Ele estuda muito no computador. Mas ele não é de ficar com a cara enfiada nos livros. É o que me espanta também”, disse ela.
A paixão de João Paulo é o xadrez. O estudante faz parte do Projeto Lindo Lance, realizado pela Secretaria de Educação, que tem como objetivo desenvolver a criatividade, o raciocínio, a imaginação e estimular o respeito ao próximo por meio do xadrez. Ele é destaque da cidade nessa modalidade e treina duas vezes por semana na escola. Se depender do jovem, ele dará 'xeque-mate' para matemática e para a astronomia e irá para se dedicar ao xadrez no futuro.
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