terça-feira, 29 de outubro de 2013
Cadeirante supera desafio e ingressa no ensino superior
(Diário do Nordeste) O estudante Ricardo Oliveira, 24 anos, cadeirante, portador de amiotrofia espinhal e colecionador de quatro medalhas de ouro e uma de prata na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), há três meses realiza um novo sonho: cursar o ensino superior. O aluno campeão é um exemplo de superação e um incansável batalhador, apesar de enormes dificuldades que a vida lhe impõe.
Matriculado no curso de Mecatrônica Industrial, no campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE) nesta cidade, na região Centro-Sul do Ceará, Ricardo Oliveira vivencia uma nova etapa nos estudos e já quer se preparar para um curso de mestrado em Matemática. A sua história de vida é um exemplo para tantos outros que têm condições de estudar, mas não valorizam a oportunidade.
Ricardo Oliveira ficou conhecido nacionalmente quando em 2006, recebeu a terceira medalha de ouro da 4ª Obmep, no Rio de Janeiro, das mãos do então presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. O fato repercutiu em todo o país e despertou a atenção da mídia regional e das autoridades do município de Várzea Alegre para a história de vida do medalhista.
Apoio
Graças ao apoio da secretaria de Educação do município de Várzea Alegre, Ricardo Oliveira conseguiu concluir o Ensino Fundamental e Médio, quando passou a morar na cidade, em uma casa alugada pela Prefeitura. "O meu sonho inicial era concluir o 9º ano e depois veio o desafio do Ensino Médio", lembra Ricardo Oliveira. "Não imaginava cursar uma Faculdade, mas veio a oportunidade aqui em Cedro porque não tenho condições de morar em outro Estado ou cidade mais distante".
Depois de obter aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Ricardo Oliveira matriculou-se no campus do IFCE em Cedro. As aulas deveriam ter começado em fevereiro deste ano, mas por causa de paralisações foram adiadas para julho.
A decisão de cursar uma faculdade trouxe mudanças para a família. Não dava para Ricardo Oliveira viajar todos os dias entre Várzea e Cedro, um percurso de 40 quilômetros de ida e volta. "Vir todos os dias era cansativo, não iria suportar", disse. A família conseguiu adquirir uma casa pequena, instalada ao lado do IFCE. "Foi uma decisão em conjunto, mas não havia outra opção", avalia Ricardo Oliveira.
Todas as noites, o pai, Joaquim Oliveira, conduz o filho em uma cadeira de rodas para a sala de aula. Ricardo Oliveira precisa de um profissional cuidador e o desejo da família era que o pai fosse contratado pelo IFCE, por ter experiência com o filho. Provisoriamente, Oliveira trabalha em um depósito de material de construção.
Motivado
Em três meses de aula, Ricardo Oliveira mostra-se satisfeito. "Está tudo como desejava", diz. "Não é cansativo". A turma de 25 alunos e os professores têm carinho especial pelo colega. É um aluno dedicado. Em casa, prefere ficar no chão, sentado, estudando em um notebook. As mãos e os dedos tortos e a dificuldade em segurar caderno, livro e uma caneta é superada por esforço e muita força de vontade.
O professor do IFCE, Antonio Almir Bezerra, em recente visita à casa de Ricardo Oliveira já o orienta sobre a escolha de disciplina e de temas para o Programa de Iniciação Científica e Mestrado (PICME) para alunos que obtiveram medalha na OBMEP. "Sempre estou sonhando e desejo continuar estudando", reafirma Oliveira. "Quero seguir em frente, dar o melhor de mim e aproveitar a oportunidade. Mesmo com dificuldades, a gente pode vencer na vida".
Ricardo Oliveira lamenta que jovens não aproveitem o tempo disponível e tenham desinteresse pelos estudos. "Muitos só querem saber de forró e depois vão reclamar da vida", disse. "Estudar é difícil, cansativo, mas deve ser encarado com alegria".
A mãe de Ricardo, Francisca Antonia de Oliveira, é dedicada às tarefas domésticas e ao cuidado com o filho. Faz tudo com muito amor e é incansável. "É uma alegria vê-lo na faculdade", disse. "Se não fosse o apoio que ele teve da Prefeitura de Várzea Alegre, do ex-prefeito Zé Hélder, ainda estaria no sítio Vacaria", salienta.
Vitórias
As dificuldades são vencidas com trabalho e resignação entre a família, Ricardo, os pais, e o irmão Romildo Oliveira da Silva, 20 anos, que neste fim de semana faz provas do Enem. Ele pretende fazer curso superior na área de computação. Neste ano, ele concluiu o curso técnico em Informática no IFCE de Cedro.
A diferença de idade entre Ricardo e Romildo é de quatro anos. No começo da aprendizagem, Ricardo recebeu apoio do irmão mais jovem, que levava tarefas da escola para casa para ser resolvida.
"Fizemos uma parceria que deu certo e estou feliz e orgulhoso por ter tido a chance de ensinar e ajudar o meu irmão no começo de sua aprendizagem. Foi gratificante", disse Romildo.
Hoje os dois mantêm certo distanciamento e cada um segue o seu caminho na aprendizagem. Enquanto Ricardo começa cursar o nível superior, Romildo enfrenta a ansiedade e o desafio das provas do Enem. "Meu sonho é fazer faculdade na área de Informática e ser professor", disse. Certamente, será uma questão de tempo.
Além das medalhas da OBMEP, Ricardo Oliveira conquistou premiação na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica durante o Ensino Fundamental e Médio. Foram cinco medalhas de ouro e uma de prata. "Os alunos que se esforçam conquistam o seu espaço, conseguem êxito e cada um tem o seu talento que precisa ser explorado", disse Ricardo Oliveira. Na parede da casa, em Cedro, quadros com preitos de gratidão ao aluno vencedor, exemplo nacional de superação: ´Prêmio Personalidade Cenecista 2008´, ´Comenda Padre Vieira´, e ´Diploma de Honra ao Mérito da Prefeitura Municipal de Várzea Alegre.
Na parede da casa, em Cedro, quadros com preitos de gratidão ao aluno vencedor, exemplo nacional de superação: ´Prêmio Personalidade Cenecista 2008´, ´Comenda Padre Vieira´, e ´Diploma de Honra ao Mérito da Prefeitura Municipal de Várzea Alegre´.
Ele já realizou mais de 40 palestras. "Os alunos prestam atenção, ficam empolgados e percebem que as dificuldades que eles enfrentam são mínimas", diz Ricardo Oliveira.
Aluno acumula quadro com medalhas de ouro
A história do estudante campeão que acumula cinco medalhas de ouro e duas de prata da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) começou no sítio Vacaria, distrito de Ibicatu, zona rural de Várzea Alegre. Ricardo Oliveira nasceu com uma doença rara, amiotrofia espinhal, que limita sua locomoção. Por isso, permaneceu em casa por vários anos. Inicialmente, foi alfabetizado pela mãe, de quem recebeu as primeiras noções de português e matemática.
Em decorrência da doença do filho, a família mudou-se para São Paulo para buscar tratamento de saúde no Hospital das Clínicas. Na época, Ricardo tinha quatro anos. Lá, nasceu o segundo filho, Romildo da Silva. Após um período de assistência médica e diagnóstico da doença, o casal trouxe os dois filhos de volta a Várzea Alegre.
Retornaram para o sítio Vacaria. Aos quatro anos, Ricardo já estava alfabetizado pela mãe, que era professora das séries iniciais do Ensino Fundamental, mas permanecia estudando em casa, pois havia dificuldades para levá-lo até a escola. Romildo também foi alfabetizado pela mãe, mas logo foi matriculado na Escola de Ensino Fundamental Joaquim Alves de Oliveira, onde passou a frequentar a 2ª série do Ensino Fundamental.
"Comecei tarde, estudando em casa com minha mãe, as primeiras lições", recorda Ricardo Oliveira. Em 2005, Ricardo Oliveira foi descoberto pela Secretaria de Educação do Município, que realizava um programa de inclusão educacional. Fez prova de validação e mostrou-se apto a ingressar no 6º ano (antiga 5ª série).
Em 2006, obteve a primeira medalha de ouro na Obmep. A conquista foi repetida nos anos seguintes até 2009, quando concluiu o Ensino Fundamental na Escola Maria Afonsina, na cidade de Várzea Alegre.
Em 2010 e 2011, no Ensino Médio, obteve duas medalhas de prata e em 2012, a última de ouro. Acumula, portanto, cinco medalhas de ouro e duas de prata. A conquista exigiu esforço, foi pesada, mas os frutos são leves e lhe trazem alegria.
A escola ficava perto da casa dele, na localidade de Vacaria. Ricardo ia todos os dias levado pelo pai, o agricultor Joaquim Oliveira, em um carrinho de mão, daqueles usados em serviços da construção civil. Foram dias de dificuldade.
O campeão dos números e da vida também é palestrante e fala para alunos das escolas do Ceará sobre superação de vida e outros temas motivacionais. O ciclo de palestra ocorre ao longo do ano, por iniciativa do governo do Estado do Ceará.
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