terça-feira, 28 de agosto de 2012

Brasil corre risco de não participar de Olimpíada de Biologia em Portugal

(JC) Estudantes de 20 países de línguas portuguesa e espanhola vão se reunir na cidade de Cascais, em Portugal, para a 6ª Olimpíada Ibero-Americana de Biologia (OIAB). Cada delegação tem o direito de levar até quatro alunos. O evento acontece entre os dias 2 e 8 de setembro. Mas o Brasil corre o risco de não participar por falta de recursos.

"O nosso país já conquistou na OIAB, até hoje, uma medalha de ouro, quatro de prata e oito de bronze. Mas, infelizmente, as instituições que tinham prometido nos ajudar com estadia e passagem informaram que não poderão nos apoiar. Será um fato muito triste para a ciência, em especial, para a biologia, caso não consigamos levar nossos estudantes a Portugal", lamenta Rubens Oda, coordenador nacional da Olimpíada Brasileira de Biologia (OBB) e líder da equipe brasileira na OIAB.

Para participar da OIAB ou da Olimpíada Internacional de Biologia (IBO, na sigla em inglês), o aluno deve antes participar da olimpíada nacional de biologia em seu país. Eles devem ainda ter no máximo 19 anos e não estar cursando uma faculdade.

Esse ano, a olimpíada brasileira reuniu 70 mil jovens. No intuito de preparar os estudantes para as competições no exterior, a Associação Nacional de Biossegurança (ANBio), responsável pela iniciativa no País, promoveu um treinamento intensivo com os dez primeiros colocados da OBB. Eles assistiram às aulas em laboratórios da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e do Instituto de Tecnologia ORT.

Durante esse período, foram ensinados procedimentos técnicos como eletroforese, espectrofotometria, dissecção, microscopia, microbiologia, ecologia, bioestatística entre outros assuntos. "É fundamental a participação das universidades no processo de treinamento dos alunos, pois, além de torná-los mais bem preparados, garante que os participantes trabalhem como multiplicadores em suas escolas e estados".

"E para darmos continuidade ao trabalho de divulgação científica com os estudantes, é de suma importância que o governo e a população encarem as olimpíadas de ciências com tanta seriedade quanto as olimpíadas esportivas. O legado deixado pelo fomento à educação sem dúvida é um diferencial que, infelizmente, não vem sendo reconhecido pelos nossos governantes", ressalta Oda.

R$ 50 mil - Mas os custos com a preparação dos alunos aliados àqueles necessários para levar os estudantes a Portugal estão além dos recursos apenas da ANBio. Para a presidente da associação, Leila do Santos Macedo, não há suporte suficiente para bancar o projeto.

"Pedimos ao governo federal, em edital para as Olimpíadas, R$ 250 mil. A de biologia, que exige muitas despesas, recebeu do CNPq apenas R$ 50 mil para treinamento e, agora, mandar a delegação para Portugal. Nós, normalmente, pedimos apoio para diversas empresas, mas esse ano a situação se agravou. Nossos custos foram muito maiores por conta do treinamento de vários alunos no Rio de Janeiro. Não temos como pagar as passagens. As escolas estão vendo se conseguem apoiar os alunos. Estamos bastante desmotivados, mas não perdemos a fé em nossa missão", afirmou.

Rifa - Leonardo Afonso Costa, de 17 anos, foi um dos estudantes convocados a participar da comitiva brasileira. Ele é o primeiro aluno de um colégio público no País a ser selecionado para participar de uma olimpíada de biologia deste nível. Perante a possibilidade de não participar da competição, o aluno do Colégio de Aplicação Coluni, em Viçosa (MG), lamenta.

"Para mim, que sou de escola pública, fica mais difícil. Eu estou frustrado e chateado. Tivemos um treinamento intensivo para nada? Eu consegui R$ 2 mil do meu colégio e ganhei uma bicicleta da minha escola antiga para rifar para ver se consigo dinheiro para a olimpíada', afirmou.

Manifestação - A possibilidade de o Brasil estar fora das olimpíadas chocou o presidente do Comitê Organizador da 6ª Olimpíada Ibero-americana de Biologia em Portugal, professor José António Matos.

Em carta endereçada à embaixada do Brasil em Portugal, ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e ao ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, Matos destacou que "é com profundo desgosto e perplexidade que constato que de todos os países Ibero-americanos que realizaram Olimpíadas no seu país este ano, o Brasil é o único que, a 10 dias do início das Olimpíadas, ainda não confirmou a sua presença".

Organização - A Olimpíada Ibero-Americana de Biologia surgiu há seis anos. Foi fundada pelo Brasil, México, Argentina e Espanha com o intuito de aproximar as nações ibero-americanas. Além dos idiomas (português e espanhol), os países têm muitas características em comum. "O intercâmbio de materiais e práticas de ensino de biologia é fundamental para que cresçamos juntos. E, a cada ano, novos países vêm se integrando, tornando o evento ainda mais grandioso".

A OIAB segue o mesmo modelo da olimpíada internacional. Neste ano, serão duas provas teóricas e três provas práticas com os temas: Biodiversidade e Conservação, Ecologia e Ambiente e Genética e Evolução. Além disso, os alunos também participam de um Rally (gincana) que visa aumentar o intercâmbio entre os participantes.

Além das provas realizadas nos laboratórios da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), os estudantes também poderão visitar o Museu do Mar, o Oceanário, o Museu de Ciências, além de participar de várias outras atividades culturais.

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