(Valor Econômico / JC) Neste ano, as provas da primeira fase Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) contou com a participação de 19,1 milhões de jovens e mais de 46,5 mil escolas do País. Os números representam quase 90% do total de alunos de toda a rede pública aptos a fazer as provas.
A mineira Natália da Fonseca Barbosa, de 13 anos, fala da soma dos quadrados dos catetos do teorema de Pitágoras com desenvoltura e confunde a reportagem, que precisa de mais explicação para entender sua paixão por números. Ela aprendeu a relação matemática que calcula o comprimento do terceiro lado do triângulo retângulo quando ainda estava na quinta série do ensino fundamental - pelo currículo pedagógico do país, esse tema geométrico só aparece a partir de meados da sétima série.
Hoje na sétima série da Escola Estadual Adelaide Bias Fortes, em Barbacena, Natalia não é nenhum tipo de gênio ou prodígio. Aos 11 anos ela ganhou sua primeira medalha, de bronze, na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), foi premiada com uma bolsa mensal de R$ 100 e durante um ano participou de um programa de iniciação científica júnior na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). No ano passado, a estudante teve nota boa na prova, levou o ouro e se prepara para mais uma temporada de estudos avançados de matemática na universidade. Além disso, tem garantida bolsa para iniciação científica quando chegar ao ensino superior, custeado pelo governo federal, apoiador da olimpíada.
Baseada numa tradição que nasceu na Hungria em 1894 para estimular o estudo da matemática entre crianças e jovens e identificar mentes brilhantes para as ciências exatas, a olimpíada dos números no Brasil começou em São Paulo, em 1977, e só teve a primeira edição nacional exclusivamente para alunos da rede pública em 2005, com a participação de 10,5 milhões de crianças e jovens do ensino fundamental e médio de 31 mil escolas. Neste ano, as provas da primeira fase contou com a participação de 19,1 milhões de jovens e mais de 46,5 mil escolas. Os números representam quase 90% do total de alunos de toda a rede pública aptos a fazer as provas.tiveram quase o dobro de inscrições: 19,1 milhões de jovens e mais de 46,5 mil escolas participantes. Os números representam quase 90% do total de alunos de toda a rede pública aptos a fazer as provas.
O País também conta com outra competição nacional de matemática, misturando escolas públicas e privadas, com cerca de 200 mil participantes por ano.
"O sucesso da olimpíada se deve ao impacto no aprendizado nas escolas públicas e ao envolvimento dos professores e diretores. O número crescente de participantes e de premiados com medalhas de ouro, prata e bronze dos lugares mais recônditos do país estimulam a participação e revelam que o talento para a matemática está uniformemente distribuído por toda a sociedade brasileira", avalia o peruano César Camacho, diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), organização social ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação responsável pela condução da Olimpíada de Matemática.
Ele acrescenta que os jovens que se destacam na olimpíada pública ficam mais interessados em seguir carreiras de exatas na universidade. "É um fenômeno ainda mal estudado, mas estamos percebendo que lugares com muitos alunos premiados se estabelece uma corrente contínua até o ensino superior."
Embora não esteja preocupado em ganhar medalhas, Jonathan Cícero, de 14 anos, da 8ª série da Escola Estadual Olavo Pezzotti, na cidade de São Paulo, conta que entender melhor as equações e os problemas "com certeza" o ajudará na sua carreira. "Quero trabalhar com computação ou engenharia, e matemática é bem importante".
Já Leandro Freitas Pessoa escolheu seguir carreira acadêmica - bastante impressiva, por sinal. É bom com números desde criancinha. Na olimpíada, foi medalhista quando estava no ensino médio no Piauí. Atualmente, aos 23 anos, já cursa, com bolsa, o doutorado em matemática na Universidade Federal do Ceará (UFCE). "A olimpíada vem resgatar o sentimento de que a matemática é a mãe de todas as ciências. Descobre alunos que têm talento na disciplina, e geralmente quem é bom em matemática é bom também em outras matérias que hoje têm a ver com profissões de status no país, como medicina e engenharia", opina Leandro.
O jovem acadêmico lembra que a olimpíada não é somente uma competição. O Impa fornece livros didáticos e DVDs que são usados para complementar o currículo. As provas do campeonato, elaboradas por acadêmicos, têm uma proposta pedagógica diferente da matemática cotidiana vista em sala de aula. Com linguagem leve, priorizam a lógica e a resolução de problemas que despertam o interesse e a curiosidade de alunos e professores. Exemplo de questão de um teste do ano passado traz a história do Tio Mané, torcedor fanático do Coco da Selva Futebol Clube. Ele quer criar uma bandeira para o time. Um estandarte é apresentado com várias figuras geométricas em destaque, e a pergunta pede para o aluno calcular a área da parte pintada do desenho.
"A Obmep [Olimpíada] dá uma chacoalhada. São questões diferentes, instigantes. Tem aluno que diz não gostar da matemática da escola, mas da Obmep gosta. Acaba sendo uma alternativa mais interessante para ensinar", comenta a professora da Universidade de São Paulo (USP) Ana Catarina Hellmeister, coordenadora para o Sudeste da Olimpíada de Matemática. "É um desafio. Às vezes não precisa fazer muita conta para resolver o problema, é só entender bem o enunciado e usar a lógica", conta a mineira Natalia. Aluna da quinta série da Escola Estadual Olavo Pezzotti, Luana Helena Alves, de 11 anos, fez a prova pela primeira vez neste ano e achou difícil, mas gostou do formato. "Tem muito gráfico e tabelas para ler e perguntas sobre como contamos nosso dinheiro quando compramos alguma coisa."
Na escola de Luana, professores de matemática e estudantes montaram um grupo que se reúne em atividades extra classe para estudar os exercícios propostos no material didático da Obmep. "Nessa turma tratamos a matemática como uma filosofia que ensina a pensar, a fazer o aluno questionar mais. Assim ele vai melhorar na resolução de problemas matemáticos e também da vida", diz José Carlos Barreto, professor de matemática.
Na rede estadual de Minas Gerais, a olimpíada de matemática entrou no calendário escolar por determinação da Secretaria Estadual de Educação. Na prova deste ano, o índice de participação foi de quase 90% entre alunos do sexto ano do ensino fundamental e terceiro ano do ensino médio. Desde 2005, os estudantes mineiros são os que mais faturam medalhas de ouro - foram 113 em 2011. "Como o material didático da Obmep é muito bem elaborado decidimos incluí-lo no projeto pedagógico de cada escola. Ele complementa o processo de aprendizagem", explica Raquel Elizabete Souza Santos, subsecretária de Desenvolvimento da Educação Básica de Minas.
O Impa ainda não tem levantamento que mostre se, além do aumento do número de participantes, o rendimento nas provas da Olimpíada melhorou nos últimos anos. "A percepção que a direção da Obmep e os próprios corretores das provas têm é que o desempenho dos estudantes melhorou, mas não fizemos a estatística dessas informações por falta de tempo e recursos, talvez no ano que vem. Não é trivial compilar dados de 20 milhões de pessoas", justifica César Camacho.
O principal indicador educacional do país indica que, embora o país registre evolução, matemática é um calcanhar de aquiles dos estudantes brasileiros. Entre 2007 e 2009, as notas de matemática dos alunos de oitava série e do ensino médio na Prova Brasil cresceram, em média, 1,6 ponto, bem menos que o avanço médio de 8,4 pontos na avaliação de português.
Em recente reportagem, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep-MEC), João Galvão Bacchetto, disse temer que a nota do País no Pisa - avaliação internacional que mede a qualidade da educação em mais de 60 países - fique abaixo do esperado porque a edição deste ano do exame enfatiza matemática.
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