quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O impacto das olimpíadas científicas

Educadores consideram a influência dessas competições bastante positiva não só para alunos, como para professores e escolas

(JC) Os resultados positivos alcançados por estudantes brasileiros em olimpíadas científicas nacionais e internacionais confirmam a importância desses eventos não só para os alunos, mas para professores e escolas. De acordo com especialistas, essas competições promovem uma dedicação maior aos estudos e podem influenciar os jovens, no futuro, a seguirem carreiras na área científica.

Para João Batista Garcia Canalle, professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenador da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) desde 1998, se alguém decide participar de uma olimpíada de forma voluntária, como é o caso da OBA, então o participante se prepara para a prova, pois pretende ganhar uma medalha. "Isso mostra que, se estudou mais do que faria sem a presença da olimpíada, então, já estamos causando um impacto sobre ele, pois estudou mais, e isso é o que mais queremos que os alunos façam. E veja que estudaram mais por livre e espontânea vontade, e é assim que mais se aprende", analisa.

No caso dos professores, Canalle afirma que a OBA também influencia de forma positiva. "Para preparar ou ajudar os alunos a se prepararem, o professor precisa estudar um pouco mais. Neste processo ele está sendo induzido pela olimpíada a se capacitar, e, logo, isso é outro impacto da OBA sobre esses professores", resume.

A escola não fica de fora nesse processo e também é beneficiada. No caso da OBA, este ano 20 mil lunetas foram compradas com a ajuda do CNPq para serem distribuídas entre as escolas participantes. De acordo com Canalle, é um incentivo para essas escolas onde há pelo menos um professor interessado em astronomia e em proporcionar aos seus alunos a oportunidade de participarem da olimpíada. "Com isso, estamos causando um impacto sobre o acervo de materiais didáticos da escola, pois além da luneta estamos enviando livros, planisférios, revistas, cds, dvds etc, e creio quesomos a única olimpíada que faz isso em grande escala", argumenta o professor. Ele revela ainda que estudos estatísticos realizados pela coordenação da olimpíada mostram que quanto mais vezes a escola participa da OBA melhores são as notas dos seus alunos. "Isso comprova que estamos causando um impacto sobre a capacitação de todos daquela escola", conclui Canalle.

Bons exemplos - A 8ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) deste ano premiou mais de 140 alunos. Já na 20ª Competição de Matemática para Estudantes Universitários, realizada na Bulgária, os brasileiros somaram 14 medalhas, sendo uma de ouro, 11 de prata e duas de bronze. A delegação brasileira conquistou quatro medalhas de bronze na sétima edição da Olimpíada Ibero-Americana de Biologia (Oiab), realizada na Argentina. E em outra competição internacional, a Olimpíada de Matemática da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, organizada em Maputo (Moçambique), o Brasil ficou, pelo terceiro ano consecutivo, com a primeira posição geral. A delegação brasileira conquistou uma medalha de ouro e três de prata.

Professor do Departamento de Ciências Aplicadas à Educação, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro do GAME - Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais, José Francisco Soares adota a seguinte hipótese explicativa para os impactos positivos das olimpíadas científicas: "qualquer envolvimento da escola em algo pedagogicamente relevante produz resultados", afirma ele.

No estudo intitulado "O impacto da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) no desempenho dos alunos na Prova Brasil", Soares constatou os resultados positivos dessa competição para os alunos premiados e também para os demais estudantes da escola participante. "No caso das escolas, observamos que o efeito da Obmep pode ser devido ao fato de que uma escola que é capaz de se organizar para participar efetivamente da olimpíada tenha um projeto mais sólido e efetivo de ensino de matemática, o que, por sua vez, enseja um melhor desempenho de todos os seus alunos nos testes de matemática da Prova Brasil", diz o estudo.

O relatório final da pesquisa recomenda que as escalas usadas para avaliar o aprendizado em matemática, tanto na Obmep quanto na Prova Brasil, sejam mais bem conhecidas e aplicadas nas políticas educacionais do país. "Sobretudo se considerarmos que os seus responsáveis são os melhores matemáticos brasileiros, esse conhecimento é útil e urgente", afirma Soares.

Medalhas - Mesmo quando o importante é competir, ganhar medalhas é sempre a recompensa do esforço, um reconhecimento da superação. Anualmente, a OBA distribui 34 mil medalhas aos cerca de 800 mil participantes. "Quem ganha uma medalha jamais se esquece disso, seus professores têm orgulho dos seus alunos medalhistas, seus pais também, a escola também, a comunidade como um todo acaba vibrando com as medalhas recebidas por seus alunos. E motivação é fundamental para aprendizagem", opina Canalle.

Para Canalle, certamente muitos destes alunos medalhistas da OBA decidir-se-ão por seguir seus estudos com muito mais dedicação, e muitos deles poderão seguir pelas carreiras das ciências exatas e alguns poderão se dedicar à Astronomia ou à Astronáutica. "Mas mesmo que sigam para outras profissões quaisquer, certamente serão mais conscientes sobre a importância de se estudar os planetas, estrelas, o universo como um todo".

Nenhum comentário:

Postar um comentário