Professora promove ensino diferenciado em meio a uma região afetada pela seca e obtém ótimos resultados
(JC) No ano passado, 22 alunos de Paulista, município do interior da Paraíba com cerca de 12 mil habitantes, foram premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. Foram cinco medalhas de ouro, duas de prata, três de bronze e 12 menções honrosas. O caso chamou a atenção da imprensa para os métodos "práticos" da professora Jonilda Alves Ferreira, responsável pelo desempenho da maioria desses estudantes, com idades entre 11 e 13 anos. Nesta quarta-feira (15), eles foram homenageados na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado (CE).
- Jonilda promoveu em sua cidade uma revolução silenciosa no ensino de matemática, em meio a uma região afetada pela seca - disse o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que solicitou a homenagem.
Dos 22 alunos premiados do município de Paulista, 13 pertencem à Escola Municipal Cândido de Assis Queiroga, onde a professora leciona - um deles é Wanderson, seu filho. Ao explicar como estimula os alunos a estudar matemática e a participar da olimpíada, ela conta que, sempre que possível, promove "aulas práticas" para envolver os estudantes, levando-os, por exemplo, a uma pizzaria para aprender o que são e como se calculam as frações ou a um posto de gasolina para conhecer os números decimais e regra de três. Nas aulas de geometria, ela faz com que os alunos saiam da sala de aula para medir a área e o perímetro da própria escola.
- Eu os coloco em situações nas quais eles vivenciam a matemática - ressaltou Jonilda, acrescentando que feiras e farmácias são outros locais em que seus estudantes aprendem a disciplina.
Ao elogiar o trabalho da professora, Mônica Gardelli Franco, do Ministério da Educação (MEC), assinalou que Jonilda "deu concretude a uma disciplina que em geral é ensinada de forma muito abstrata e que, por isso, muitas vezes acaba não fazendo sentido no cotidiano". Mônica Franco lembrou que a matemática surgiu da necessidade de explicar a realidade, "nasceu com pessoas que enfrentavam dificuldades e encontraram respostas por meio da matemática".
- Jonilda resgata essa compreensão - observou Mônica Franco, que é diretora de Formulação de Conteúdos Educacionais da Secretaria de Educação Básica do MEC.
Escrita e raciocínio lógico
Outro ponto ressaltado por Jonilda Ferreira é a necessidade de estimular, logo nos primeiros anos do ensino fundamental, a capacidade não apenas de escrever, mas também de desenvolver o raciocínio lógico por meio da escrita. Ela contou que vários de seus alunos chegam à sexta série (momento em que podem começar a participar da olimpíada) com dificuldades para justificar em um texto os cálculos que fizeram - o que é uma das exigências dessa olimpíada.
- Eu aprendi a matemática com o cálculo "pronto". Quando fui fazer a licenciatura e o curso exigia que eu escrevesse para justificar os cálculos, sofri muito para aprender isso - relatou a professora.
Olimpíada para estimular talentos
Promovida pelos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Educação, a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas é executada pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), que tem sede no Rio de Janeiro. Claudio Landim, que é diretor-adjunto do instituto e coordenador-geral da olimpíada, frisou que um dos objetivos da competição é "detectar alunos com talento para a matemática e permitir que eles tenham uma boa formação nessa área".
Entre os exemplos que citou, está o de Tábata Amaral, de São Paulo. Após obter uma medalha de prata em 2005 e outra de ouro em 2006, ela recebeu bolsa integral de uma escola particular, participou de competições semelhantes no exterior e hoje faz faculdade em Harvard. Claudio Landim também destacou o caso do cearense Ricardo Oliveira, portador de amiotrofia espinhal, que desde 2006 obteve várias medalhas de ouro na olimpíada. Devido à doença, o estudante só foi à escola a partir dos 17 anos, "levado pelo pai num carrinho de mão". A partir do segundo semestre, ele vai cursar mecatrônica industrial no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).
O coordenador-geral da olimpíada informou que, neste ano, 47 mil escolas públicas se inscreveram na competição, que registrou mais de 18 milhões de alunos inscritos.
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