quarta-feira, 11 de abril de 2012

'Supercampeã' entra em Harvard e em mais 5 universidades americanas

Tábata Amaral, de 18 anos, concluiu ensino médio com bolsa de estudos. Filha de dona de casa, superou dificuldades financeiras e realizou sonho.





(G1) Há cinco anos, a estudante Tábata Cláudia Amaral de Pontes, de 18 anos, moradora de São Paulo, estabeleceu uma meta: estudar na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. De lá para cá, pegou firme nos estudos, foi destaque em olimpíadas estudantis dentro e fora do Brasil e aprendeu a falar inglês. O resultado oficial do esforço chegou na última quinta-feira (29), Tábata foi aceita em Harvard e em outras cinco universidades americanas. São elas: Caltech, Columbia, Princeton, Yale, e Pennsylvania.

Harvard é uma das universidades mais conceituadas do mundo e as outras cinco em que a brasileira foi aceita também seguem entre as mais bem colocadas em ranking mundial de reputação divulgado em 15 de março. A seleção é feita pelo Scholastic Assessment Test (SAT, Teste de Avaliação Escolar), uma espécie de 'Enem americano,' que também é aplicado no Brasil aos interessados em disputar vagas nos Estados Unidos. Para conquistar a vaga também é necessário fazer o teste de proficiência em inglês, o Toefl (Test of English as a Foreign Language).

"Quando soube [da aprovação em Harvard] comecei a chorar muito, perguntava se podia mudar o resultado. Eram duas da manhã, liguei para minha mãe, meu pai ficou super emocionado. Chorei duas horas seguidas", diz Tábata. O aviso foi feito via telefone por um representante da universidade, porém o resultado só foi oficializado na última quinta-feira.

A garota agradece ao fato de ter tido acesso ao resultado de Harvard antes do previsto. Três dias depois que soube da aprovação, o pai morreu. Se soubesse somente na última quinta-feira, não teria como ter contato a ele. "Foi muita sorte. Ele acreditou em mim e eu cumpri minha promessa. Ele ficou muito feliz, nem conseguiu mais dormir naquela noite. Que bom que deu tempo de falar, de qualquer forma ele saberia do céu, mas foi bom contar", afirma.

A jovem foi aluna do Colégio Etapa, em São Paulo, como bolsista. Como sua mãe que trabalhava como vendedora de flores e o pai que era cobrador de ônibus não tinham como arcar com suas despesas de transporte e alimentação, o Etapa passou a custear um quarto em um hotel próximo à escola na Avenida Vergueiro, além de pagar as refeições da estudante. Atualmente, como já concluiu o ensino médio tornou-se funcionária do colégio: é professora de química e astronomia dos alunos que participam de olimpíadas.

Para estudar nos Estados Unidos também terá bolsa de estudos e ajuda de custo. Lá as bolsas são distribuídas de acordo com as condições socioecônomicas do estudante aceito e não por mérito, por isso a garota diz que não estar preocupada com a questão financeira.

Tábata estuda física na Universidade de São Paulo (USP). Como não sabia se seria aceita nos Estados Unidos, garantiu a vaga assim que foi aprovada no vestibular deste ano. Ainda não sabe por qual universidade americana vai substituir a USP, mas não esconde sua preferência por Harvard. Ela foi convidada por algumas universidades para uma visita e deve ir para os Estados Unidos na segunda quinzena de abril antes do período de matrículas. "É bem provável que escolha Harvard, mas quero pensar direitinho. Quero conhecer as universidades que me convidaram, visitar laboratórios, pensar na minha vida e digerir o que aconteceu. Na volta tomarei uma decisão bem tomada."

Astrofísica e socióloga
Apesar de ser craque nas ciências exatas, Tábata não dispensa a formação na área de humanas. A jovem quer mesclar os estudos entre astrofísica e ciências sociais. Ciência porque se diz apaixonada, e é por meio dela que consegue descobrir o mundo, e a sociologia porque quer trabalhar com educação, ajudar pessoas e retribuir as oportunidades que teve na vida.

Para isso, pensa em seguir carreira como pesquisadora, criar um centro de pesquisas de astrofísica e atender alunos de escolas públicas. Tábata afirma qualquer estudante pode chegar onde ela chegou. "Estabeleci um sonho 'meio grande' há cinco anos, e fiz de tudo para conseguir. Na verdade, no final não acreditava. Dá trabalho, mas não é impossível."

História com as olimpíadas
As cerca de 30 medalhas das olimpíadas conquistadas na vida de "atleta" estão guardadas na casa dos pais na Vila Missionário, Zona Sul de São Paulo, onde também estão os dois baús repletos de presentes que trocou com os participantes das olimpíadas na China, Turquia e Polônia, e em várias cidades brasileiras. Ela também coleciona moedas e notas em papel.

A primeira medalha foi uma de prata que veio aos 12 anos, em 2005, quando ela fez sua estreia nos torneios estudantis com a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). No ano seguinte, ganhou o ouro e bolsa de estudos da escola Etapa.

A vontade de aprender vem junto com a de ensinar. Há três anos, Tábata criou o Vontade Olímpica de Aprender (VOA), um projeto que visa incentivar estudantes de escolas públicas nas olimpíadas. As aulas ocorrem sempre aos domingos de manhã em uma escola pública na Vila Mariana. Atualmente são cerca de 180 alunos.

"O VOA é meu xodó e o projeto vai continuar sem mim. Quero convencer ex-alunos a se tornarem professores. E vou ajudar pela internet, não quero me desligar", diz.

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