Ministério da Educação diz que não vai "abrir mão" das políticas públicas de incentivo ao ensino da matemática e da língua portuguesa
(JC) Participar da olimpíada aumenta em 1,91 pontos a nota média dos alunos em matemática em relação à nota de alunos de escolas não participantes. O efeito da olimpíada sobre a nota de matemática está ligado à motivação e à competição. Esse é o resultado do estudo "Avaliando o impacto da Obmep na qualidade da educação" desenvolvido por especialistas da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV), do Itaú-Unibanco, do Insper (Ensino e pesquisa nas áreas de negócios e economia) e da FEA/USP.
A pesquisa, disponível no site da Obmep (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), também demonstrou que o desempenho em avaliações educacionais promove retorno econômico e benefícios salariais futuros aos jovens participantes, além de "redução da criminalidade, aumento do bem-estar social, dentre outros fatores resultantes da melhoria da qualidade da educação pública.
Destacando que as olimpíadas têm um impacto positivo no ensino público nacional, o diretor-adjunto do Impa e coordenador-geral da Obmep, Claudio Landim, citou o estudo para demonstrar que o desempenho na Prova Brasil de alunos de escolas que participam da Obmep é melhor do que o desempenho de alunos de escolas que não participam.
Ligada ao Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Obmep realiza anualmente, desde 2005, com o apoio do Ministério da Educação (MEC), competições do conhecimento. Até o ano passado foram inscritos quase 20 milhões de alunos, representando 86% das escolas públicas do ensino fundamental ou ensino médio no país.
A instituição foi um dos órgãos notificados pelo COB para que não usasse o termo olimpíada em suas competições. Claudio Landim considera descabida a decisão. "Essa diligência me parece totalmente impertinente e demonstra uma total falta de sensibilidade dos dirigentes do COB", critica.
Posição do governo - Segundo Landim, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante prometeu entrar em contato com o COB a fim de solicitar a retirada de tal ação. Procurado, o MEC, em nota, não confirma a informação, mas diz estar empenhado em estimular as olimpíadas do conhecimento, as quais incentivam os estudantes a debater, estudar e aprender.
O ministério acrescenta que não vai "abrir mão", por exemplo, das políticas públicas de incentivo ao ensino da matemática e da língua portuguesa, via a Olimpíada da Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro e da Obmep. "São programas que abrem portas para os estudantes das escolas públicas brasileiras e que aperfeiçoam a formação dos professores", enfatiza a nota.
O secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luiz Antonio Elias, lembrou o artigo 6º da lei 12.035/2009, que define que as autoridades federais deverão atuar no controle, fiscalização e repressão de atos ilícitos que infrinjam os direitos sobre os símbolos relacionados aos Jogos Rio 2016. "Ou seja, o uso do termo 'olimpíada' para as competições científicas não tem qualquer relação com os Jogos Rio 2016. Esse é uma palavra genérica, de uso comum, que não identifica uma marca. Portanto, é claro que as olimpíadas científicas podem continuar usando esse termo", pontuou o secretário.
O professor Antonio Cardoso do Amaral, da Escola Estadual Augustinho Brandão e da Escola Municipal Teotônio Ferreira, ambas as de Cocal dos Alves, espera que seja revertida a decisão do COB. Ele chamou a iniciativa de "absurda". "São, exatamente, as olímpiadas de matemática que vêm proporcionando grandes mudanças na educação de Cacau dos Alves", assegura Amaral, um dos mestres de alunos que se destacam nas olímpiadas de matemática a cada ano em Cocal dos Alves, um dos municípios mais pobres do interior do Piauí.
Amaral critica ainda o COB por querer mudar o que vem dando certo no país, em vez de se preocupar em tornar-se um parceiro da educação. Isto é, pensar em como "o esporte poderia contribuir" para melhorar a educação brasileira. Mesmo insatisfeito com a iniciativa do COB, o professor preferiu considerá-la "pequena" diante dos desafios que se apresentam para a educação pública nacional.
"Nossa missão é muito maior do que parar para discutir isso, embora a decisão do COB nos cause indignação. Não podemos nos abalar com isso. Já temos o desafio de fazer a educação brasileira acontecer diante de todos os problemas que estão aí", disse ele ao referir-se ao modesto piso salarial dos professores (R$ 1,45 mil), infraestrutura ineficiente e baixo investimento no setor, dentre outros obstáculos.
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E mais:
Reunião na ABC sobre o uso do termo 'olimpíadas' em eventos científicos e educacionais (JC)
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