sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Olimpíada e Jornada Espacial Aproximam Estudantes da Pesquisa Científica



(FAB/Brazilian Space) A história do cearense Ricardo Oliveira tinha todos os ingredientes para ser igual à de milhares de pessoas que desistiram de um sonho. Filho de agricultores, nasceu com amiotrofia espinhal, doença genética que limita os movimentos. Alfabetizado em casa pela mãe, somente aos 17 anos ingressou na 5ª série do Ensino Fundamental e não tardou para o jovem dar sinais da sua força de vontade: conquistou quatro medalhas na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, premiação que o credenciou a participar da Jornada Espacial, evento realizado anualmente pela Agência Espacial Brasileira (AEB) em parceria com o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). “Realizar eventos que despertem nos jovens o interesse pela área espacial é como iluminar (ainda que com uma lanterna) os caminhos alternativos que eles têm ao seu dispor”, explica José Bezerra Filho, um dos mentores do projeto.

Casos como o do cearense Ricardo Oliveira mostram como a determinação é elemento essencial para transformar vidas e que a realização de eventos que sirvam como palco para jovens talentos mostrarem suas habilidades é imprescindível. Criada em 2005, a Jornada Espacial dá oportunidade aos alunos com melhores desempenhos na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica de conhecer o universo da tecnologia aeroespacial e ter contato direto com profissionais que atuam na área. O sucesso do evento reflete-se nas marcas alcançadas: ao todo, 444 alunos dos 26 estados brasileiros participaram das oito edições realizadas até agora. Desses, 169 são oriundos de escolas públicas. “É imperativo mostrar aos jovens que existe um Brasil e brasileiros que não aparecem nas revistas semanais, nem no noticiário televisivo, mas que fazem uma diferença enorme para o bem desse país”, explica Bezerra.

Exemplos positivos que brotaram da Jornada Espacial não param por aí. A estudante Indhyara Dhânddara, 17 anos, tornou-se a primeira aluna do pequeno município de Paraupebas, no Pará, a participar – e sair vitoriosa – de um torneio com enfoque nas questões espaciais. Entre um acesso e outro ao facebook, rede social que frequenta assiduamente, Indhyara relembra a experiência gratificante que foi participar da Jornada Espacial, conhecer o DCTA e assistir à palestra do astronauta Marcos Pontes, do qual se intitula fã de carteirinha. “Cada palestra fazia com que meu interesse só aumentasse. Os professores e doutores que tive contato foram grandes exemplos de onde se pode chegar com estudo e trabalho”, revela a jovem, que tem como espelho nos estudos a mãe, Nubethânia Matos, aprovada em 2º lugar na primeira turma do curso de Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Após participar da Jornada Espacial e conhecer as dependências do DCTA, Indhyara descobriu um novo mundo, do qual ela não quer mais se afastar. “Antes da Jornada, eu não sabia ainda que carreira profissional seguir. Acredito que o evento cumpriu seu papel na minha vida. Talvez eu nunca tivesse descoberto esse interesse ou possibilidade de trabalhar para o Brasil se não fosse esse evento”, acrescenta a estudante, que agora sonha em ingressar no curso de Engenharia Aeroespacial do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), lugar ao qual se refere, encantada, como “templo do conhecimento”.

Eventos como a Jornada Espacial objetivam plantar a primeira semente em busca da conscientização no que toca à área espacial e, como consequência, ajudam na formação de futuros profissionais. Esse foi o caso de Danilo José Franzim Miranda, que participava, em 2005, da primeira edição do projeto. Então aluno do primeiro ano do ensino médio do Colégio Militar de Brasília, Danilo voltou à jornada também no ano seguinte. Na oportunidade, desenvolveu um foguete, movido a álcool, feito de garrafa PET com as bases de PVC. “Considero a área espacial a verdadeira fronteira do conhecimento do ser humano, é o que mais comove o meu coração”, disse ele à época, dando prenúncio do que mais tarde estava por vir. Em 2008, Danilo ingressou na 1ª turma de Engenharia Aeroespacial do ITA, curso que concluiu em 2012 com um trabalho sobre o Veículo Lançador de Satélites (VLS). A semente plantada lá atrás, em 2005, na primeira edição da Jornada Espacial, trouxe bons frutos à sociedade: Danilo hoje é engenheiro da Visiona, empresa nascida a partir de uma parceria entre a Telebrás e Embraer, que será responsável pelo lançamento do primeiro satélite geoestacionário brasileiro.

A realização de eventos como a Olimpíada Brasileira de Astronomia e a Jornada Espacial, que servem de plataforma para que jovens como Ricardo, Indhyara e Danilo aprimorem seus interesses sobre foguetes, satélites e aplicações, temáticas ainda pouco conhecidas pela sociedade em geral, significa um importante passo para a valorização dos talentos brasileiros – coisa que países emergentes como China e Índia já têm se empenhado em fazer.

Para José Bezerra Filho, os projetos voltados à área educacional aos quais é ligado se justificam por mostrar aos estudantes que existe um caminho a trilhar dentro do Brasil: “temos o dever para com o país de levantarmos a bandeira do conhecimento. No fundo, no fundo, eu sinto a obrigação de fazer o que faço”.

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