Participação de brasileiros em eventos internacionais também está ameaçada
(JC) A X Olimpíada Brasileira de Biologia (OBB) corre o risco de não ser realizada em 2014. O motivo é a falta de recursos do Ministério da Educação (MEC) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), seus principais apoiadores. Por enquanto, apenas a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) se comprometeu em apoiar o evento. Mas os valores não representam nem 25% do que a organização precisa. Com isso, o Brasil não poderá participar nem das modalidades internacionais de biologia.
A situação preocupa Leila dos Santos Macedo, presidente da Associação Nacional de Biossegurança (Anbio) responsável pela coordenação da OBB. Segundo ela, o projeto encaminhado ao CNPq no edital de apoio as Olimpíadas foi negado pelo órgão com o argumento de mesmo tendo sido considerado com mérito não era de prioridade do Governo. "Recorremos ao presidente do CNPq imediatamente após recebermos o parecer em 17 de dezembro de 2013 e até a presente data não tivemos qualquer resposta", afirmou ela.
A participação do Brasil em competições internacionais em biologia também está ameaçada, pois o processo de seleção prévio no país ocorre por meio das três etapas da OBB. De acordo com a presidente da Anbio, existe um edital das olimpíadas internacionais que deve ser seguido pelos organizadores da olimpíada nacional. "Não podemos mudar as regras sob pena de desclassificar o país. Além disso, a Olimpíada Internacional este ano será realizada na Indonésia e a Ibero Americana no México o que representa elevado custo para envio das delegações composta por seis membros cada como regra da internacional. Sem recursos não teremos mesmo como enviar a delegação brasileira", preocupa-se Leila.
De acordo com a coordenação nacional da OBB, cerca de 60 mil alunos de ensino médio participam de uma série de provas a cada ano. Destes, os dez primeiros colocados são trazidos para uma semana de treinamento prático no Rio de Janeiro. O programa conta com o apoio de professores instituições como a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Museu Nacional, Instituto ORT e Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Para o biólogo José Carlos Pelielo de Mattos, professor adjunto do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-UERJ) e pesquisador do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, a questão é grave. Ele participa da preparação das provas teóricas e das atividades práticas da OBB. Além disso, junto com o professor Rubens Oda, coordenador nacional da OBB, ele faz parte da delegação brasileira nas olimpíadas internacionais.
Segundo ele, sem o apoio financeiro do MEC e do CNPq não há como realizar o treinamento prático que já estava previsto no cronograma da X OBB para os primeiros colocados após as provas teóricas. "O custo com hospedagem, alimentação e transporte desses alunos é alto e depende do apoio financeiro desses órgãos. As etapas práticas correspondem a 40% da nota final do aluno. Vale ressaltar que as atividades experimentais das olimpíadas internacionais são cobradas em níveis de dificuldade e complexidade acima daqueles cobrados pela totalidade das escolas de ensino médio brasileiras, o que torna a etapa de treinamento fundamental para uma boa participação dos alunos nas fases internacionais", explicou Pelielo.
Mobilização - De acordo com a coordenação da OBB, em 2013 o evento custou cerca de R$ 200 mil, incluindo todos os gastos relacionados ao treinamento prático dos alunos em laboratórios, às viagens, aos uniformes da delegação brasileira com o software para gerenciar todo o sistema de provas, correções e classificação automática on line e correspondências. Com um gasto médio de R$ 3 por aluno inscrito, para Leila Macedo, a OBB não está entre as mais caras. "Considerando que mesmo olimpíadas que não exigem treinamento prático como a de Matemática recebe montantes bem superiores a 1 milhão, a de Biologia foi sempre a que recebeu menos recursos em relação as demais desde 2005", apontou.
Enquanto a resposta do CNPq não sai, a coordenação da OBB está mobilizando diferentes entidades que apóiam a olimpíada, como Conselhos de Biologia, empresas para possíveis patrocínios, universidades, alunos e escolas participantes. "Fizemos um abaixo assinado a ser encaminhado ao MEC e MCTI. Além disso, enviamos correspondência ao Comitê Olímpico Internacional relatando a situação do Brasil. O Comitê ficou de enviar cartas aos ministros informando a importância da nossa participação no evento", afirmou a presidente da Anbio.
O abaixo assinado está disponível em https://www.change.org/pt-BR/peti%C3%A7%C3%B5es/cnpq-e-governo-federal-pelo-apoio-a-olimp%C3%ADada-brasileira-de-biologia.
A Coordenação de Comunicação Social do CNPq informou que a seleção de propostas de olimpíadas científicas é realizada por meio de edital e as propostas são analisadas por um comitê integrado por pesquisadores especialistas da área de Divulgação e Popularização da Ciência. No julgamento são levados em consideração os seguintes aspectos: qualificação da equipe executora e experiência na organização de competições similares; abrangência territorial da competição; maior número de participantes em potencial; possibilidade de inserção dos vencedores em competições internacionais.
Ainda de acordo com a Coordenação de Comunicação, cada proposta é analisada de acordo com esses critérios e em comparação com as demais propostas submetidas. No julgamento ocorrido em dezembro de 2013, a proposta da X Olimpíada Brasileira de Biologia (OBB) recebeu parecer favorável, ficando na 11ª posição no ranking das propostas recomendadas. Tendo em vista limitações orçamentárias do CNPq, foram apoiadas as oito primeiras colocadas.
As olimpíadas de conhecimento, como a OBB, a de Matemática e de Astronomia, entre outras, são reconhecidas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Os defensores da OBB afirmam que a iniciativa vem buscando o interesse ativo em estudos através de soluções criativas a problemas biológicos, além da aproximação da universidade do ensino médio de Biologia, incentivando que os estudantes descubram nessa ciência e na educação a capacidade de crescimento intelectual, econômico e social.
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