segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

No Brasil, evento para estudantes lembrarão o Ano Internacional da Química

(Correio Braziliense / JC) Unesco declara 2011 como o Ano Internacional da Química com o objetivo de popularizar o ramo do conhecimento e mostrar como ele está presente no cotidiano das pessoas

Para algumas pessoas, a palavra química se refere apenas a uma das matérias da escola, dessas complicadas que costumam manchar os boletins de notas baixas. E, depois que concluem o ensino médio, muitos acreditam ter se livrado dos cálculos, fórmulas e conceitos intrincados.

A verdade, porém, é que esses elementos nos acompanham por toda a vida - ainda que não percebamos. Para popularizar a ciência e divulgar os benefícios que ela traz, a Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (Unesco) celebra 2011 como o Ano Internacional da Química (AIQ).

O lançamento oficial da data foi feito semana passada, na sede do órgão, em Paris, com o tema A química para um mundo melhor. A iniciativa é uma parceria com a União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac) e prevê a realização de atividades em mais de 60 países, como exposições, concursos, palestras e exibições de experimentos. Os eventos também comemoram os centenários do prêmio Nobel recebido pela polonesa Marie Curie, primeira mulher a ser laureada, e da fundação da Associação Internacional de Sociedades de Química (IACS).

No Brasil, a programação está sendo definida por um comitê encabeçado pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). "As pessoas precisam parar de associar química a coisas ruins, como poluição. Nossas atividades devem ajudar a acabar com essa imagem negativa", defende a coordenadora do AIQ no país, Cláudia Rezende.

"A química pode ser um veículo para a destruição e o consumo excessivo, assim como pode contribuir para que a vida se prolongue. Cabe à sociedade escolher", complementa Cláudia, que é pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "O AIQ coloca na vitrine do mundo a importância da química para tornar feliz e confortável a nossa vida. Promove uma mobilização de forças sociais, econômicas, políticas em torno desse aspecto", opina o presidente da Abiquim, Eduardo Bernini.

O lançamento oficial do AIQ no Brasil ainda não tem data definida e será feito na Academia Brasileira de Ciência, no Rio de Janeiro. Mas as ações começaram no ano passado, com o lançamento do livro A química perto de você, que descreve experimentos de baixo custo a serem realizados em escolas e pode ser lido no site http://www.quimica2011.org.br/

Para este ano a programação prevê a realização sistemática de visitas de alunos de escolas públicas a centros de pesquisa e indústrias e um concurso nacional de redação direcionado a estudantes dos ensinos básico e superior. A disciplina também deve ter destaque na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia deste ano, promovida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, e há previsão ainda de uma exposição itinerante baseada em painéis produzidos pela Sociedade Americana de Química.

Várias universidades também se prepararam para comemorar a data. A Universidade de Brasília (UnB) dá partida a seus eventos em abril. "Estamos fechando uma programação bem intensa", antecipa o professor Gérson Mól, diretor da Divisão de Ensino de Química da SBQ e coordenador do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências da UnB. A tradicional Semana de Química, que deve ocorrer em junho, tentará atrair o público externo. "Vamos fazer palestras e cursos mais voltados para a comunidade, sobretudo para os alunos do ensino médio. Buscaremos temas como química forense, que despertam bastante o interesse dos jovens", complementa Mól.

Um dos objetivos do AIQ é promover a discussão de questões como a produção científica em química no Brasil e a formação de professores. "Queremos chamar a atenção para esses problemas", afirma Cláudia Rezende. "Vamos promover reuniões e gerar documentos que avaliem a atual situação e apontem soluções, inclusive políticas. Desenvolvimento em pesquisa significa autonomia nacional", defende a coordenadora nacional do AIQ.

"O Brasil é um país que, por tradição, não investe muito em ciência, em educação", avalia Mól. "Aqui, só o governo investe em pesquisa, de uma forma geral. O que é feito fora da universidade se desenvolve em instituições governamentais. Pouca coisa é feita com recursos privados", lamenta. Segundo ele, a formação de professores de ciências avançou muito nas últimas três décadas. "Há uma área exclusiva na Capes que trata do ensino de ciências. As universidades têm melhorado as licenciaturas, a prática pedagógica tem sido mais valorizada."

No entanto, a quantidade de licenciados capacitados a ensinar nas escolas é insuficiente. "Aí, outras pessoas acabam assumindo as aulas de química, como engenheiros, farmacêuticos", critica Mól. No quadro nacional, o DF seria uma exceção. "É uma unidade da Federação pequena e tem um salário diferenciado em relação ao resto do país. Muita gente vem de fora fazer concurso aqui."

Os professores também costumam penar para fazer os jovens se empolgarem com a matéria. "A grande maioria dos alunos não gosta. Eu gosto de trabalhar muito com experimentos em laboratório, para aproximar a realidade concreta dos conceitos, mas mesmo assim é difícil", conta Verenna Barbosa Gomes, 26 anos, licenciada em química e mestranda em ensino de ciências na UnB.

Para combater o desinteresse de seus alunos, Grazielle Alves dos Santos, 28, colega de Verenna no mestrado da UnB, relacionava os conceitos de química com seriados policiais. "Eu explicava alguns assuntos a partir de testes mostrados em programas como CSI", explica.

O capitão Carvalho, professor de química do Colégio Militar, alcança bons resultados entre seus alunos. Dois deles, Henrique Gasparini, do 2º ano, e Guilherme Costa, do 3º, ficaram entre os primeiros colocados na Olimpíada Brasileira de Química (OBQ) de 2010 e disputam as quatro vagas da seleção brasileira que vai participar da competição mundial. "Se você trabalhar apenas a parte teórica, o aluno pode ter dificuldade em assimilar o conteúdo. Busco associar a teoria à vida cotidiana dos jovens, mostrar que a química está integrada a tudo", diz.

O estudante Guilherme, 16 anos, ganhou a medalha na OBQ do ano passado. Está se preparando para o primeiro teste por que passarão os candidatos à seleção brasileira, a ser realizado nessa semana. "Acho muito boa a celebração do Ano Internacional", elogia. "Um dos propósitos é incentivar o estudo de química, que está presente em materiais que todo mundo usa e pode contribuir para o desenvolvimento de materiais biodegradáveis, que preservem o meio ambiente", observa. Ele reconhece que a maioria dos alunos não se anima com a disciplina. "O vestibular não pede para refletirmos sobre o que estudamos", analisa.

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